“A arte traz equilíbrio emocional, traz estruturação para a vida da gente. Eu devo muito a arte. De onde eu tiro minha serenidade, é da minha arte. Em vários momentos da minha vida, ela sempre me amparou. Eu acredito em Deus, sei que ele está no comando, mas tiro força da minha arte”, define a artista plástica Norma Vilar.
Proprietária da galeria de arte que leva o seu nome, e de uma escola de arte, ela soma 38 anos de carreira e prova que é possível, sim, viver de arte no Brasil. Não que seja fácil, mas como em qualquer carreira, com muita entrega e dedicado, investindo em conhecimento, informação e se unindo a pessoas do meio, é possível conquistar o reconhecimento.
Sua trajetória começou aos 14 anos, quando foi trabalhar como desenhista em uma filial do estúdio Maodé, na pequena cidade de Pontes Gestal. O empresário tinha amizade com suas irmãs e frequentava a casa dos seus pais, e, desde que ela tinha 10 anos, ele viu suas habilidades com os desenhos, e prometeu um emprego.
“Esse convite foi uma luz para a minha vida, uma direção, porque se eu não fizesse arte, eu não sei o que seria hoje. Eu vivo através da arte, eu vivo a arte”, declara.
Foram quatro anos de trabalho, e com a experiência adquirida e depois de fazer cursos de vitral e óleo sobre tela, começou a ministrar aulas de arte em Pontes Gestal, Riolândia e Américo de Campos, e, até hoje, participa da formação de outros talentos.
Com o sonho de fazer faculdade, em 1996 Norma começou a viajar diariamente para Rio Preto, e no ano seguinte mudou-se para a cidade. Hoje é formada em artes plásticas, com especialização em pintura na Grécia, pós-graduada em arte e criatividade e técnica em design de interiores.
Talento, Criatividade e Técnica
O talento evidente de Norma Vilar, aliado a sua criatividade e muita técnica adquirida através de estudos, fizeram suas obras serem distribuídas em todo o Brasil, e já ultrapassaram fronteiras, sendo expostas em Portugal, Estados Unidos, Argentina, Inglaterra, Emirados Árabes, México, França, Espanha, Itália e Áustria.
Ganhando a Vida no Pincel
Ainda na faculdade, Norma desenvolveu sua veia de empreendedora. Ao fazer os trabalhos curriculares, aproveitava para agregar projetos de sua jornada de artista. Depois estreitou laços com arquitetos e engenheiros, aprendendo a ler projetos, o que lhe abriu portas. “A cada ano eu fui evoluindo mais, especialmente o meu SER, e isso é muito precioso para mim. Também me desenvolvi na parte de gestão financeira, porque é possível viver da arte, eu sou a prova disso. Eu ganho a vida no pincel”, conta.
Em 2017 ela conseguiu seu espaço próprio, que é composto por quatro pisos, no primeiro é o ateliê, onde cria as obras. No segundo fica sua escola de arte, onde ministra as aulas. O terceiro e quarto abrigam as galerias onde são expostos seus trabalhos e também servem para outras ações culturais como palestras, concertos, performances, lançamentos de livros, exposições individuais e coletivas, entre outros. O prédio também abriga o apartamento onde mora.
Amor, Aconchego, Harmonia e Transformação
No início dos anos 2000, a artista plástica sentiu necessidade de um encontro com sua identidade artística, e se encontrou desenvolvendo arte com materiais alternativos e sustentáveis como o papel machê, que é o jornal triturado com cola.
“A arte humaniza, transforma, e trabalhar com materiais alternativos foi um ganho para o meu trabalho. O resultado é inusitado e singular. Hoje, quando preencho uma ficha-técnica, coloco técnica mista, porque trabalho com pigmentos minerais, serragem, pó de café, folha de ouro, que é um material mais nobre, tintas à base de àgua, entre outros materiais”, esclarece Norma.
Amor, aconchego e harmonia são as três palavras que ela usou para definir sua arte, em sua biografia de 25 anos de trabalho, e ainda continua com elas. Mas hoje acrescentou ‘transformação’, a transformação constante de sua arte.
“Nos últimos anos venho estudando muito a cerâmica, que é um material muito dócil, o barro, a argila, e hoje sou ceramista também”, pontua.
Suas ações mais recentes são sempre direcionadas a projetos, onde desenvolve seu processo criativo, e se sente muito alimentada, o que faz com que produza em série.
“Apenas um trabalho não é suficiente para tudo que recebi de estimulo, para apresentar o que sinto, penso, o meu entorno, para tocar o coração das pessoas.”
O Misto de Serenidade e Gratidão
No dia 19 de julho, Norma foi surpreendida com o incêndio. Ao chegar no prédio de sua galeria, por volta das 18 horas, sentiu um cheiro diferente, que vinha do forno onde era feita a queima das cerâmicas. Então desligou o forno, ligou o exaustor, e foi fazer um vídeo, por conta de uma exposição que aconteceria no dia seguinte. Mas o cheiro ficou mais forte e começou a sair pela boca do forno. O material inflamável deu força ao incêndio, que foi controlado pelos bombeiros por volta das 19h30.
“E muito triste ver 38 anos de dedicação pegando fogo, mas me mantive serena porque pensava que o mais importante eu carrego dentro de mim, que é meu conhecimento, experiência e vivência, e isso o incêndio não levou. Eu saí com a roupa do corpo e arte dentro de mim”, recorda ela.
O prejuízo material incluiu uma van na qual eram transportadas as obras, parte do prédio, o apartamento onde morava, muito material de custo elevado e até seu carro de passeio, o único item que tinha seguro.
“Houve uma comoção muito grande das pessoas, elas chegavam para me dar um abraço e eu as acalmava. Eu pensava que poderia ter tido uma explosão e ganhar uma proporção muito maior.”
Norma conseguiu entrar no prédio na madrugada seguinte, e foi o único momento em que se emocionou, porque viu que o fogo não tinha levado tudo, que 30% tinha resistido e seria possível recomeçar. E foi durante o relato para essa reportagem que Norma se emocionou pela segunda vez, mas não por dor, por gratidão.
“No primeiro sábado depois do incêndio, eu consegui, com a ajuda de muitos artistas e amigos, reorganizar parte do espaço e voltar a ministrar cursos. Tive muita ajuda, pessoas que fizeram doação via PIX, artistas que montaram exposição e reverteram o valor da venda das obras para a reconstrução da galeria, fornecedores e lojistas me doaram materiais. E eu só tenho a dizer gratidão a todos, mas hoje essa palavra ganhou outro sabor na minha vida”, emociona-se ao recordar.
“O tempo todo eu me mantive serena e penso que essa serenidade é o equilíbrio que eu falo que a arte traz. Se eu trabalho com arte há 38 anos, e falo dos seus benefícios, que ela traz equilíbrio emocional, que ela cura, que cria conexão com a gente mesmo, é porque eu acredito nisso, e a prova é que passei por esse incêndio, e me mantive em paz e serena”, conclui.
Fonte: Revista Satine Edição 7 2/24 – Páginas 54 à 57
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