Publicada pela editora Livro na Estante, a obra será lançada nesta segunda, 6, na sede do Diário da Região.

Salomão Boaventura
Publicado em 04/06/2022 às 00:00
Atualizado em 04/06/2022 às 09:35

Obra de Norma Vilar ilustra a capa (Reprodução)

O tempo é implacável, principalmente em épocas desafiadoras. Como já disse Virgílio, poeta romano do século I a.C, “Sed fugit interea fugit irreparabile tempus (Mas ele foge; irreversivelmente, o tempo foge)”. É justamente nesse cenário instável e de ansiedade que surgiu a inspiração para a antologia poética “Faces de Chronos: Vozes femininas na pandemia”, que será lançada nesta segunda-feira, 6, às 10h, na sede do Diário da Região.

Publicada pela editora Livro na Estante, a obra foi idealizada pela tradutora e escritora Patrícia Reis Buzzini, em parceria com as poetisas Célia Regina Cavicchia Vasconcelos, Elma Eneida Bassan Mendes, Loreni Fernandes Gutierrez, Lucila Papacosta Conte e Vera Mussi Hage. Cada uma contribuiu com 20 poemas. “Pensei na temática do tempo, pois todas nós estávamos pressionadas pela instabilidade da pandemia: muitos sentimentos estavam ali, à flor da pele. Assim, surgiu o título, pois Chronos, deus grego relacionado ao tempo que devora seus filhos, traz a ideia que o fim está próximo. Então, penso que há uma conexão forte com esse sentimento compartilhado durante a pandemia”, conta Patrícia.

Para o editor do livro, o jornalista João Paulo Vani, o trabalho apresentado é muito rico. “ A obra traz seis mulheres oferecendo uma visão de mundo, feminina, sobre um período tão duro. Cada uma dessas autoras revelou perspectivas distintas e, para qualquer lado que se olhe, esse livro aponta para você. Essa metaleitura é importante para a reflexão”, afirma.

A professora Susanna Busato, autora do prefácio, conta que a antologia é uma obra densa. “O que percorre os poemas é a voz feminina, que fala da existência humana. Por conta do confinamento, o cotidiano ficou desacelerado. Então, os poemas são fruto da reflexão profunda, que se deu nesse processo. É como se fosse uma contrapartida a essa ação devoradora do tempo. Para mim, são seis faces de Chronos que mostram como o tempo é representado para cada uma dessas vozes”, diz.

Capa do livro Faces de Chronos: Vozes Femininas na Pandemia

A arte da capa é uma intervenção feita sobre tela da artista plástica Norma Vilar. “Essa obra tem um olhar muito profundo e introspectivo. Apesar de ter pintado essa tela há 10 anos, ela mostra esse período da pandemia com um olhar para dentro e de redescoberta. A intervenção digital, com a máscara, foi muito bem-feita. Sinto-me muito honrada em participar da antologia”, diz a artista plástica.

Superação

“Essa obra nasceu do desejo de ter calor humano em pleno isolamento social. Ela nasceu por acreditar que a arte tem o poder de superar um vírus e, principalmente, muitas mortes. Nasceu do desejo que manifestações de força e esperança – sentidas por almas humanas neste tempo presente – também fossem sentidas por outras almas humanas, em futuros tempos. Afinal, a palavra é a única alma que fica eternamente.”

Célia Regina Cavicchia Vasconcelos possui poemas publicados na coletânea ‘Cidade Poética’ e na revista Bem-Estar, do Diário. Seus contos estão na coletânea ‘Elos da Língua Portuguesa’

Derrame da alma

“Foi um derrame da alma ter a oportunidade de transmitir sentimentos, emoções e até mesmo contradições que ficaram represados durante esses quase dois anos. Não sou poeta, sou escritora de crônicas. De vez em quando, eu me aventuro na poesia e esse exercício é muito bom, pois deixa a vida mais gostosa. Compus 20 poemas especificamente para a antologia. Escrevo muito sobre o que vivi e vivo; então, ali está o que eu assisti da pandemia, tanto pela mídia, quanto o que vivi dentro da minha casa e vibrei com nossa redenção pela vacina. Nos poemas estão sentimentos e emoções do que vivi.”

Elma Eneida Bassan Mendes tem crônicas publicadas em mais de uma dezena de livros. Ela é organizadora de quatro obras e publica na coluna Painel de Ideias, do Diário

Grande lição

“Nesta antologia, retratamos nossos sentimentos no período pandêmico. Por meio da nossa escrita, delineamos as nossas angústias, nossa solidão e o nosso medo. A capa da coletânea retrata bem esse período: sempre que a olharmos, lembraremos desse tempo de reclusão que foi, sem dúvida, para todos nós, uma grande lição. Por que ‘Faces de Chronos’? Porque são faces de um tempo cronológico que pode ser medido, quantificado. Quantos de nós não contávamos as horas, os dias e os meses, na esperança de que tudo acabasse e pudéssemos voltar à nossa vida normal? Os poemas estão muito bonitos e cheios de emoção. Eu me sinto lisonjeada por poder participar, junto com outras faces, desse projeto maravilhoso e tão salutar.”

Loreni Fernandes Gutierrez é autora de quatro livros. Participou de diversas coletâneas, como ‘Elos da Língua Portuguesa’, coletâneas da Rede de Escritoras Brasileiras (REBRA), entre outras.

Desejo de Liberdade

“Participar da antologia é uma experiência que fez uma grande diferença na minha vida. Gostaria que todos os leitores do livro também sentissem a emoção dessas vozes e esse desejo de liberdade. Essa oportunidade que tivemos de participar da antologia significa o direito a uma palavra nova, um sussurro, em forma de poesia. Essa é a mensagem. Obviamente, a poesia se presta a dizer mais do que seria possível dizer em prosa. Então, gostaria que todos lessem os poemas, mas lendo aquilo que não foi dito.”

Lucila Teresa Papacosta Conte tem livro publicado, bem como poemas, contos e crônicas em diversas antologias. É resenhista de clássicos da literatura universal na revista Bem-Estar, do Diário.

Atenção ao tempo

“Durante a pandemia, nos atentamos mais ao tempo. O isolamento, em si, foi um fator determinante para que conseguíssemos pensar sobre como gastamos o tempo. A antologia surgiu de uma conversa com a Célia, que também é autora nesta obra, pois estávamos ansiosas porque gostaríamos de publicar algo. A questão das faces foi muito bacana, porque mostra como cada poetisa vivenciou esse período e quais foram os sentimentos que prevaleceram em cada uma. Lendo os poemas, é possível ver características particulares em cada escrita. Cada uma conseguiu transformar seus sentimentos em poesia.”

Patrícia Reis Buzzini é escritora, tradutora, poetisa e articulista no Diário. Assina a tradução de dois romances e é autora de um livro. Além disso, conta com poemas publicados em várias antologias.

Refúgio na alma

“Em tempos pandêmicos, maior foi a necessidade de fazer uma introspecção e buscar, dentro de nós mesmos, o que poderia ser um refúgio. Minha maior inspiração foi a alma. Afinal, lá está a essência e foi onde me inspirei e me desdobrei para buscar as respostas. Penso que a alma é onde todas as questões e respostas residem. Por isso, dei voz à minha alma. Na quietude, tentei entender a anatomia da alma, em uma peregrinação de versos, para configurar os poemas. Como alquimista da palavra que sou, a alma se desdobra e, através de sensações, busco exercitar o amor em toda a sua plenitude.”

Vera Mussi Hage publicou dois livros de poemas e já recebeu prêmios em concursos de contos. É colaboradora da revista Bem-Estar.

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